Escrever exige sumiço.
Não é só sentar e escrever. É desaparecer um pouco do mundo. Suspender a função, a obrigação, o papel. É esquecer-se — ou lembrar-se demais.
Mas há vidas que não podem desaparecer.
Há quem seja chamado o tempo todo. Quem precise cuidar, responder, estar. Quem carrega o corpo como uma extensão das tarefas. Quem vive em alerta, mesmo quando o corpo está sentado.
E isso também não é dito: que a escrita precisa de um lugar onde você não esteja em dívida com nada. Nem com o olhar do outro, nem com a performance de ser alguém útil.
Por isso, às vezes, o tempo está ali. Mas o mundo não permite que você se ausente dele.
Escrever não é um lazer. É um risco. É um gesto de desobediência ao tempo útil.
E quem nunca teve permissão pra parar, também não encontra permissão pra sumir.
É por isso que, pra algumas pessoas, escrever parece impossível:
porque ainda não encontraram um mundo onde seja seguro não estar presente.
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