Um lugar para escutar o
que ainda não virou palavra

Quem escreve sabe: o texto nunca começa no papel.

Ele começa dias antes.

Na frase que ecoa no banho.

Na imagem que fisga no ônibus.

No olhar atravessado na rua.

No silêncio que pesa enquanto você lava a louça.

A escrita é um processo de acúmulo.

É feito de restos, fragmentos, escutas, feridas, distrações.

Ela se alimenta de tudo o que o corpo vive quando ninguém está prestando atenção.

Por isso, essa ideia de “tempo livre” como o único espaço legítimo da escrita é uma falácia.

O tempo livre é só o instante em que a palavra finalmente aceita nascer — mas a gestação foi feita em segredo.

E aqui está o ponto que poucos dizem:

Se você vive se culpando por não escrever, talvez esteja ignorando que já está escrevendo.

Enquanto pensa, sente, armazena, pressente, evita, sofre, deseja — já está escrevendo.

A escrita começa muito antes.

Muito antes da hora marcada.

Muito antes da caneta na mão.

Muito antes de você se sentir pronta.

Escrever não é começar do zero.

É começar de dentro.

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