Um lugar para escutar o
que ainda não virou palavra

Há frases que servem de disfarce.

“Não tenho tempo” é uma delas.

Às vezes, não é o relógio. É a ausência de lugar.

Lugar onde você possa sangrar sem ser interrompida.

Onde possa dizer sem ser corrigida.

Onde possa parar sem se sentir culpada.

Escrever, para quem escreve de verdade, não é um hobby.

É uma forma de hemorragia simbólica.

Uma abertura deliberada daquilo que sangra por dentro — memória, ausência, raiva, desejo, luto, nome.

Mas nem todo mundo tem onde sangrar.

Nem todo mundo tem um quarto, uma mesa, uma pausa.

Nem todo mundo tem uma vida que permita desaguar.

É isso que ninguém te conta quando falam sobre escrever com disciplina:

que escrever exige um lugar interno e externo de amparo.

Dizer “não tenho tempo” pode ser o único jeito de não dizer:

“não tenho onde existir sem me conter.”

E enquanto esse lugar não chega — a escrita espera.

Não por tempo.

Mas por paz.

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