O tempo da escrita não se comporta.
Ele falha. Vaza. Trava. Repete. Regride.
Ele não respeita o cronômetro, não entrega resultados por hora, não se adapta à lógica da produtividade.
E por isso tantas pessoas acham que não têm tempo para escrever.
Porque esperam que a escrita aconteça dentro do mesmo molde que organiza o trabalho, os compromissos, os prazos.
Mas a escrita tem outro ritmo.
Um ritmo que desobedece.
Ela precisa de tempo disfuncional — aquele que parece inútil, aquele que escorre, aquele em que nada acontece.
Você já percebeu que algumas das melhores ideias chegam quando você está distraída?
Ou exausta? Ou em suspensão?
É porque esse é o tempo dela: poroso.
O tempo da escrita não é o tempo da performance.
É o tempo da presença falha, da escuta imperfeita, da atenção que escapa.
Ele só existe quando você não está tentando caber.
Por isso, talvez não falte tempo.
Talvez só falte a permissão de não ser produtiva enquanto escreve.
Porque escrever não é entregar.
É desencaixar.
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